Alma Novaes
Raízes da minha lua
(á Mãe Eva e à sua infância perdida)
Caminhando afago,
Perdida em lembranças,
Numa qualquer viela sem nome
Os sentidos afluem á infância
-Peco...
Vivo ausente no passado.
O cordeiro branco era meu
Tão quente e amistoso, corria
Campo fora, nem me ouvia
Podia vê-lo e ouvi-lo, pois
Ao pescoço trazia
Duas sinetas vermelhas
Colocadas pelo meu pai.
- É muito fácil perder
O cordeiro do rebanho!
Ele me dizia...
Don Cordeiro pouco ou nada
Se importava
Acho que até gostava
Das sinetas musicais.
Eu refastelava-me no sobreiro
Os socos e a lancheira ao lado
Puxava da flauta e tocava
Os sons que Deus me pedia...
Méé...méé
Esta era a linguagem precisa lá,
No fim do mundo - o meu
Pelo fim da tarde, já exausta ouvia
O pai chamar-me dos olivais:
- Evita, está tarde, filha,
Acorda, olha o rebanho.
E a Eva, pequenita, se esgueirava
Tal qual a cabrita com
Pressa de parir...
Enquanto recolhia os amigos
Don Cordeiro,
-Méé méé
Segurava a flauta,
Ajudando a conduzir
Aquela orquestra maluca,
Abonada de maestros.
Comentários