Jorge Telles de Menezes

 





“Num triste Verão, com dias de nuvens baixas,

que faziam do Sol lenda de contos tradicionais (…)”

Jorge Telles de Menezes 

Sintra Azul-Lunar


Sim

perguntas-me

e eu respondo-te

querida deusa

sim

é disto que eu gosto

de ser o teu primeiro animal nocturno

de caminhar entre as nuvens da madrugada

pelas ruas desertas

quando o vento açoiteia as folhas de outono


sim

gosto de ser espreitado pelos espíritos da montanha

ocultos nos seus tronos de muros e heras

enquanto eu cantarolo

passando sem temor

sobre o chão molhado pelas lágrimas de uma princesa de névoa


sim

gosto do meu jardim selvagem e das rosas

que se abrem na madrugada para contemplarem diana

banhada pelo luar do solstício de inverno

como na pintura de uma fada do jardim epicureano


sim

gosto deste silêncio e deste assombro só para mim

de ouvir as vozes dos anjos que em coro celebram

num templo perdido no bosque sagrado

meu destino de ser poeta das tuas luas

ó sintra azul-lunar


gosto também meu irmão

sim

da tua mística luz eterna

de ti

que escreveste no aparente silêncio das pedras

a dor escultural da tua busca interior

por um diálogo entre o homem

deus

e a natureza


sim

confesso

gosto das coisas que vivem na penumbra

deste aprender contigo deusa querida

que a vida não acaba com a mera morte

e que o eco das palavras nos teus ventos circulares

ressoará em todas as estações

no ouvido atento do jovem coração

e suas naturais sezões


adianto mesmo amor

sim

que dentro de ti serei eterno

como a aura que circunda teu rosto verde

e se revela sem mácula ao luar

quando te abraço

no leito aberto das

eras e lembranças escritas no teu corpo.


Jorge Telles de Menezes

Azul-Lunar, do livro Selenographia in Cynthia

(Partiu há seis anos atrás, no dia 27 de Agosto)

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