Conium Maculatum



Purgar a minúcia até ao escopo. É um processo. Não é como tomar um café. Ou ir ao supermercado. A purgação é contínua. A culpa caminha connosco, se a sentirmos. Os remorsos provocam doenças. Se não os resolvermos. O perdão deve acompanhar todo o processo, não só aos outros. Devo fazê-lo comigo, tendo a noção sempre de que não sabia antes o que sei agora. O aprimoramento do eu é um processo. Olhar o espelho. E tentar ser o mais imparcial que conseguirmos. E quando chegar a hora de amar os outros, que antes tenhamos sabido fazê-lo connosco, respeitando-nos inteiramente.

Em matéria de culpa, a cada um a sua. Não jogo mais, há muita batota e eu, como não domino as regras, pessoais, grupais, sociais e adicionais, inventadas por quaisquer de vós, nesse todo social, abortei o plano de planear a vida do vosso modo, grosso, gesso impresso, e recuso-me a ir a jogo. Touché-coulé. Nunca gostei de grupos e nem de partidos políticos. Se fossem bons, chamavam-se inteiros.  O grupo exclui o indivíduo e a sua personalidade. Do que conheço como atual, a vossa ética não se encaixa na estética moral da minha, a identidade social chega a ser perigosa, porque subverte valores, e desfoca do objetivo e se sobrepõe, na medição de pilinhas, na ostentação do ter, atinge ápices na luta pelas lideranças e perde relevo e consistência no desempenho das reais competências, pelas quais medis os outros. Só não perde corrupção. Essa ética grupal que anula o sujeito, porque se perde no jogo de interesses pessoais, mas serve a liderança, multiplicando a ganância, a usurpação fácil, a humilhação, enfim a degradação. Somos tão mortais, não é? E os tráficos de influências e peculato, que isso é, nos tempos que correm, "tão raro", o diário suplemento, indispensável no vosso prato. A culpa perde-se sempre nas costas do grupo. Tanto como a minúcia no escopo. A culpa morre solteira. É de nada e de ninguém. E depois, vamos ser hipócritas e chorar pelas criancinhas, pelos idosos, pelos mediatismos pink que se vendem à grosa. Bebam filhos, bebam, a lembrar-me do saudoso, enorme e talentoso Zé Mário Branco no seu FMI. Insubstituível. A porca e velha hipocrisia! Que nenhum de vós pode usá-la senão à má fila, a fugir-me a boca para a vossa língua viperina que adjetiva como injeção, da seringa que nos dais.  No dia de eleições, do orçamento, dos arraiais. É bonita a vossa vida, não é filhos? Vamos brincar aos aeroportos? Vamos brincar de quê, filhos? Aos otários e aos condicionamentos dos horários, às greves nos hospitais e a que mais, filhos? Às listas de espera? Às maternidades? Que os bebés in útero ainda não pagam impostos, porque se pagassem, abriam amanhã cem maternidades, até se abriam igualdades sociais, e muito mais na promessa de uma nova leva de escravos, um novo rebanho inocente e translúcido e não se mandava ninguém dar aulas no fim do mundo, até se fazia um estudo, até se estimulava a taxa de natalidade. Era um ver-se-te-avias. E desconheço por que vos chamo filhos, mas não sou eu que fala, é o Zé Mário Branco, a Natália Correia, O Zeca Afonso, o Ary em mimem mim! E vou por aí adentro, limpo os pés no tapete do parlamento e recebe-me Orwell em pessoa, Orwell e a vara da república, a manjedoura e as bolotas, já nem falta palha, só o menino jesus, mas ele emigrou pró Al Hilal, acabou-se a piada, e fico-me por aqui, substituo a chiclete dele pela mostarda que me subiu ao nariz.  

 Ocorre-me tudo hoje, deve ser escapismo, fruto do ócio ou de outro qualquer preciosismo, de eu ser do Norte, não? Que o Norte só pode ser capital de turismo, de distrito, de capital da cultura, quando vier uma cavalgadura ao governo que seja do Norte, que ser distinta e boa é só a bella Lisboa, descendente dos nobres, que aqui no Porto é só pobres e Lisboa é mais francesa, de Nova York, é China Town de Londres, e eu guardei a big apple para a Ribeira no Porto. Não sou bairrista, mas sou contra a monopolização da cultura em Lisboa. Não é bairrismo de ontem, mas o achismo que se cala hoje, e Saturno está-me em cima, levando a boca prás verdades, pro realismo, neptuno anda-me a dar no cachaço, a desvendar tudo e a todos!  E ainda aguardamos resultados da Vénus em Libra, da justiça, da correção da vileza, porque me parece que em Escorpião deve ter sido hoje. Vamos levar com um prédio em cima.  Estabelecer limites. Erguer fronteiras. Porque quando somos tolerantes e aceitamos ser abduzidos, escrutinados, marginalizados, acreditando que está tudo bem, antes nós do que os outros, estamos a permitir que a tal da permissividade - que é o excesso de liberdade e, também, a ausência de regras e valores dos outros - colidam com os nossos próprios. E para esse peditório, eu já dei tudo o que tinha. Nem mais uma vírgula. Claro que haverá sempre os que alegarão para si mesmos, sobretudo os visados, que não arriscam a verborreia, que ainda é contagiosa, tipo seborreia, que posso ter micose de atleta, uma samica de chulé ou o pé chato. E também está bem, cada qual no seu metro quadrado. Ou ainda, cada macaco no seu galho. E a liberdade de expressão aqui está, nisto e naquilo. Num país aparentemente laico e vendido. Mas que raio quer isso dizer? Perguntem aos vossos filhos. E se eles não souberem, ensinem-lhes. E se não souberem, aprendam. Que é de suma importância. A violência grassa num país sem educação e sem ciência. Sem saúde e sem liberdade de expressão. E sem justiça e sem coerência. Aos homens do futuro que leem, não lhes é exigido que leiam! Eles não obedecem a exigências, preferem seguir exemplos práticos e modelos sociais proximais. Alguns são ainda rebeldes sem causa. Leem o caro e o barato, o superficial e o profundo. E é assim mesmo, ofereçam-lhes o exemplo e conseguirão deles o mundo. Leiam, pais.  E deem-lhes causas e ideais e afinfem-lhes com a história que não vem nos manuais e a causa das coisas. As crianças e os adolescentes leem por que veem outros que o fazem. O povo é escravo da ignorância, mas eu nunca vi escravos da cultura. A arte e a cultura são via de mão dupla, dão prazer e ensinam. Mas isto de ser artista é tão elitista, que só se consomem novelas doces e talkshows mediáticos, e não há mais mundo. Deixam-se os artistas morrer na casa do artista, como mendigos que outrora vos serviram para abrilhantar os dias, no teatro de revista, da vossa vida autista. Que morram, não é filhos? Que mendiguem as artes no asilo, na fome envergonhada, no desemprego precário! Porque trabalhar oito horas por dia não dá pra mais. As apps duplicam na velocidade dos games, os vossos filhos aprendem o que têm e o que absorvem.  Portanto, é pra eles que escrevo, para que não morram na praia. Têm que ler prosa e poesia, ciência política e entregar-se ao teatro, ir à bolina de um avião a jato, aprender mitologia, ocultismo e filosofia, e muita poesia, pra começar com o Fernando Pessoa como guardador de rebanhos, para não lhes desviar a rota de exercitar os miolos. A tabacaria, a mensagem toda. E vão-se a todos. Sobretudo aos vossos sonhos. Não oiçam os sonhos alheios, os vossos pais não cumpriram, faltou-lhes coragem, que não vos falte coragem para cumprirem os seus próprios. E leiam autores estrangeiros, leiam os portugueses, consumam tudo o que puderem. A matrix é lixada, é marranço e cornos. O tempo urge. Não aprendemos nada. Sobram-nos nomes de rios e albufeiras e tempo nenhum de qualidade para passá-lo à vossa beira. Sabemos as capitais e os países, mas não sabemos o que produzem, o que exportam, o que conquistam e somam, de características, que os ensina a pensar. Vocês a não lerem, e todos estamos enfermos, precisados que leiam, que abram a mente e a mantenham aberta, que façam os vossos joguinhos, e namoricos e viajar, mas estudar é preciso, ler é preciso, produzir cultura e levar a arte à estatura de não ser necessário, por ela, morrer de amor e de fome. Oiçam música, várias vertentes, da barroca à pop, da clássica ao heavy metal, rock e reggae, passando pelo rap,  não só a música comercial do artista, mas aprofundem os autores, e não se esqueçam do RAP, do humor, dos Vascos Santanas, dos Hermans e dos Nicolaus, dos Brunos Nogueiras, personas inspiradoras que através do rir das nossas desgraças, canalizam o que precisa mudar! Atores que, não só nos dobraram o riso, em tempos de crise, mas que nos desafiam a sair da caixa, que nos motivam a ir mais longe, a dar mais, e estudem as biografias, de que são feitos os homens que lutaram contra a iliteracia. Ou viveríamos numa ditadura ainda. Que para alguns de vós, se dá até o caso da preguiça pelo excesso de uso dos diminutivos, dos emojis, que são mais feios que os neologismos, os vocábulos são supridos, engolidos, como fios de esparguete, juntamente com a preguiça, como se fosse linguiça, que é chouriço de encher e até aposto que ainda colam nas beiradas das carteiras, em plena faculdade, as chicletes, todas mastigadas, como faziam no básico. E queremos uma sociedade nova, a pensar diferente, feita de gente que não lê, não escreve, não compõe, não esculpe, não pinta, não corre, não desperta, não brinca, é só ansiedade, tanta ansiedade e medos, a refrear os sonhos, não cultiva artes e não dança, não se expande e não deixa brincar a sua criança. Porque vive entre apps de jogos de estratégia de guerra, não, não são vocês os culpados. É a terra fria, e a guerra quente. E é isso, a guerra que os espera lá fora, nesse fora que é, já, acolá, nesse futuro chamado amanhã? Ontem era o ano de sessenta e oito e eu nasci. Hoje tenho cinquenta e seis anos e parece que o tempo virou um relógio esfomeado, a cavalgar no presente. Perdão, passado. A cavalgar no presente. Perdão, já no futuro. Amanhã não estamos cá, e vocês, como estarão se não se informarem das políticas, dos direitos, de serem cidadão comprometidos com o vosso planeta? E nem tudo é culpa do Estado. Mas sim do estado das coisas que fazem a sociedade divergir e largar de deriva a mais importante forma de avançar e sair do caos. O edifício da educação. Os professores longe de casa, longe das famílias, dos filhos, e mais próximos da violência, essa agressividade que é não ter lar, colo, chão, abrigo, e pagar contas com suor, com tristeza e desmoralização, dessa doença que os mantém noutro lado, que é o balancete entre o deve e o haver, que é preciso pagar contas e hipotecar a vida que lhes sobra, para continuar a pagar, talvez fazer horas extra, ou então dar aulas privadas, perder casamentos, fazer crescer as famílias desestruturadas, e é tudo uma pescada de rabo na boca, compreendem? Que afagais o cão que vos morde. Que mordeis o cão que vos afaga. Que é tudo um jogo de esconde-esconde, os profes perdem a motivação, os alunos, contentes com a gazeta, com o tempo extra, com ser de graça a distração e damos cabo do resto, os profes são o alvo a abater, eles que eram os mestres dentro das nações, deslocados e animados com uma cenoura frouxa e malabarista que não resolve, só adia, só empurra o problema com a barriga. Aprender e ensinar são igualmente importantes. Tão penalizado é o professor deslocado, como o aluno sem rede de apoio em casa, sem motivação do mestre. E se não se instigar a lutar, através de leitura e das artes, lá se vai a cultura dinamitar-se a si mesma, a fundação que abana, mas não cai. Que o governo não deixa, põe um penso e vai sarando, esquecendo, acomodando. Porque ler é tomar para si o que é válido e descartar o que não serve. E esta coisa em mim, está a crescer, a ficar grande demais, e eu cansada demais, estamos todos cansados da mesmice, da falta de atitude, de não se exercer cidadania, exceto quando é para se votar, para se dizer que se cumpriu o que de nós é esperado! E as condições cada vez mais escassas, a criatividade a prescrever, com a pressão da injustiça, as notícias sempre feias, a colheita parca, escassa. Quanto a mim, já tomei uma medida interna. Implosão primeiro. Depois descem os exercícios como forma da minha intervenção social. Exercícios literários para mim, vão além da purgação, é uma forma pessoal, a minha, de erguer o dedo indicador, ao que me rodeia, numa contestação criativa, para não mandar ninguém se perder, onde já andei eu perdida. Todos os que escrevemos, acreditamos ter algo a passar. E não é por não sermos lidos que deixamos de escrever. É uma luta que não podemos perder. Por isso, quando escrevo, tento traduzir os textos, em várias línguas, com apelativos musicais, com fotos e mensagens informais e rimas e chalaças. Precisamos que as crianças sejam crianças. Precisamos que os homens sejam homens. Que não se ceifem os seus talentos, que não se menosprezem, que se não cortem as asas da criatividade. As artes são terapêuticas e motivam, todas elas, qualquer uma, uma simples coleção de calendários ou de filatelia, cultivar a música, inspirar o mundo. A criança que hoje nasce precisa de bússolas, de alento. Eu escrevo para ser lida, Não escrevo para estar distraída. Isso é quando respiro. Quando durmo. Quando oiço música, em que me inspiro. E escrevo para acrescentar qualquer coisa ao todo, nem que seja numa só semente. E tento, desta forma, alterar, do meu modo, a realidade ilusória. Queria ver as crianças a pensar fora da caixa, gostava de ver-lhes, não pesos na mochila, mas inspiração para terem esperança. O intuito não é fácil, nem órfão. Partilhar as minhas experiências também me faz sentir viva e útil.  Os meus textos não são excelentes, repetem muito a mesma mensagem, como se estivesse a defender-me do mundo que me criou. Há mais do que imaginais, e muitos se farão ainda e mais, como eu, criados ao Deus Dará, se der. Não se fazem omeletas sem ovos. Eu já fui um dia um projeto do futuro, na década de 60! E cabe-me, enquanto cidadã do mundo, do país, ver definido outro rumo e definir o meu espaço, somar, multiplicar, apontar formas recursivas de darmos a volta a isto, a educação está adoecida há muito, convalescente, entre máquinas bypass, o câncer vai progredir. Pode não haver amanhã, num povo estupidificado pela matrix. E eu luto com as armas que tenho. Da forma que sei. Para que não venha a ser confundida com um rebanho onde nem me reconheço. E sei que há muitos como eu, que não se revêm, que não há identificação, que não aceitam esta forma de viver de faz-de-conta que está tudo bem, num surto esquizofrénico, patético, démodé, facilitador social, a escada do politicamente correto que a sociedade demanda. Faz-de-conta que há ensino. Que os alunos não passam sem favor. Que vai ser tudo empurrado para doutor. Faz-de-conta que há saúde, que os doentes não estão em listas de espera e terão consulta no outro mundo, e já agora médico de família, faz-de-conta que há justiça, compra-se o juiz, com luvas de pelica, fecham-se os olhos dos procuradores e trabalha-se uma  equipa coesa e expedita nos tribunais conformes, para adiar a maldita, os pagodes do sistema pagam-se com jantares e esta ou outra delicadeza, alimentam-se advogados de recursos, mas nós é que somos ursos, e faz-de-conta que os injustiçados não estão a pagar o crime aos condenados, faz de conta que os inocentes mataram na vida anterior, e na justiça divina, promulgue-se uma forma de chamar outra vez o rebanho, que somos magnânimos e já lhes permitimos ser mais humanos, faz-se de conta que as igrejas não precisam de pagar impostos, e que não há pudor, que deus nosso senhor precisa das nossas migalhas, vá lá ovelhas, deem-me as vossas migalhas para vos alimentar de mel, ou do fel que precisais, maldito ópio, maldita cocaína, - e pagam as ovelhas pela igreja e ainda dão esmola aos padres pra se pagarem os telhados das suas casitas rústicas, de tão humildes serem, e o povo que se lixe, faz de conta que a segurança social paga subsídios aos desempregados, e que por isso é que anda a ameaçar há muito poder vir a não ter dinheiro para pagar reformas aos que descontaram toda a vida. Faz de conta que a Segurança social não sabe que por cada lar privado e público, não existem 100 lares público-privados não declarados, em condições desumanas, e que até lhes envia meia dúzia e quando as comadres se zangam, lá vem uma denúncia anónima, mais um esquema que implode e quem acode os grisalhos? São números, mas toda a gente tem que viver, não é? E que entram na dinâmica do chinês, abro de mês em mês, fecho de porta em porta, ou ao contrário, abro de porta em porta e fecho de mês em mês, que é uma conta segura, vou guardando o salvado para outro condado.  Criar infraestruturas para assegurar que as crianças e os mais velhos tenham condições dignas não é preciso. Faz de conta que este governo vai ser melhor que o outro, que quando são demagogos já ninguém acredita, mas se eles falarem em per capita e em mealheiros e rebobinarem os números, ajustarem meia parcela nas contas, eles calam-nos com os números. Pela exaustão e pelo cansaço da mesmice.  Os números fazem prova de trabalho governamental. A inflação é de x, mas o salário é y e o pib há-de ser qualquer coisa meritória, na oratória entre as eleições e um arranje-se um referendo, que a divida, a correr bem, encavalita no ápice do próximo governo, que talvez com engenho e alguma arte, venhamos a fazer parte. Não se anote tal menção, não vá o jornal ou a televisão, os que são de outro clube, arranjar-nos uma comichão para não sairmos deste, enxutos! Que vá de vale em vale, evadindo-se, de gémeo em gémeo, de colonialismo em correção, que sou como o fariseu, primeiro falo (com a boca), depois exemplifico (com a mão no papel, na caneta), e com a outra ainda saco uma selfie, desmonto a peça em dois atos e escondo o restante, como arte política e que fique registado, não digam o que eu faço, façam o que eu digo!  Com toda a certeza, os jantares almofadados, os favores e o beija-mão estarão sempre na mesa de penhores, quer dizer, na mesa de cabeceira dos senhores doutores, do governo que, de tão tenso, nem pode apreciar tamanhos louvores e honrarias. E as famílias, que são o grupo mais pequeno da sociedade, se lhes correr mal, se não forem Ceos, capitalistas, epicuristas, a ataraxia ansiada toca a todos, aos donos e aos moços, o prazer não foi ainda privatizado, se não tiverem pequenas empresas ou especialidades, ou "amigos" influentes, também podem ambicionar umas férias creditadas, particularmente, num qualquer banco bom, que coma os juros em suaves prestações! Também têm direito a trocar de carro ou moto, façam de conta que sim, que têm direito porque são a força bruta, a força motriz, o voto, a raiz do vosso poleiro, a galinha poedeira que vos põe ovos reais, pra presidentes e cardeais e outros mais, como bem sabeis. E a mulher que chega tarde das horas extra, e nem tem condições de corrigir os deveres aos miúdos, fica toda contente se o marido chegar antes e fizer o jantar,  a não ser que ele esteja emigrado, para poder manter o banco calado, a pagar a porra do telhado da família que ele não vê, mas se ainda não for emigrante, e se fizer o jantar, ela cansada como está, vai-lhe nascer a tusa para amortecer a ansiedade e a pressão do marido e vai disto, faz-de-conta que teve um orgasmo, faz-se-conta que são felizes, que não estão exaustos, mortos de cansaço. Faz-se de conta que não tiveram outros sonhos. E quando forem para a missa, passear na marginal, ou para o centro comercial, estão mais mortos que o aço de não saberem que sumiço levaram os sonhos que um dia tiveram. E se tiverem norte, os filhos terão melhor sorte, mais prosperidade, mais condições, mais verdade, mas senão, é mais do mesmo, o governo lava as mãos, os mordomos nas catedrais senhoriais suspiram pelas férias, mas são todos como as agências funerárias, não querem que ninguém morra, só querem que a vida lhes corra, e vai a procissão iludida, ao jogo do Porto-Benfica, ao novo bordel que abriu na esquina, que é pró menino e prá menina, não porque tenha tesão, mas porque precisa esquecer que é da sua mão que nasce o país, as estradas, o necessário, para alimentar essa classe eleita que lhes vai chupar o dedo, perdão, o sangue, como comprovava o Zeca Afonso nos seus vampiros. O povo erguer-se á de novo, pela exaustão, parte da mesma equação, e eles espetam-nos aos cornos a censura não explicita, e os números, aumentam-se os impostos, acrescenta-se lhes a insegurança e o medo, e depressa se esquecerão que há donos e escravos. Aí têm a receita da insensatez. E vão a eito, bater com o retrato que nos fez o nosso mui caro Eça de Queiroz, de povo macambúzio e deprimente, que nem as orelhas sacode para afastar as moscas.  E quando nos poisam as moscas em cima, somos só lastro, sem leme nem mastro. Somos o fantasma que se esqueceu de partir. Ou seja, não adianta fazeres de conta, porque, realmente, se fores ver bem, ao abrigo do dossier dos poderosos, na conta serviçal, trabalhas de sol a sol, mas és metralha, serves para pagares os jantares deles e os ossos que trazes. E dás-te conta que fazer de conta é que mantém o serviço de jogo do lado deles. Tu é que és tolo, estavas morto e não sabias!  Acorda!

Quando vivemos em sociedade, assim a sociedade nos quer ensinar, fazemos o que vemos fazer. Pois bem, eu tentei e não me saí bem. Mas dentro do que me foi possível, dentro do vosso politicamente correto, lá arranjei uma forma de passar nos corredores, sem grandes quezílias e nem parafernálias. De precária em precário. Sem agredir ninguém, sem entrar em concorrência, a todos os níveis, inclusive a nível laboral. Sem ser desleal, nem hipócrita. Nem insensível, nem grosseira, nem sem escrúpulos. Pelos meus colegas comunistas, fui chamada de betinha. Pelos betinhos que conheci, era chamada de comuna, de "reaça" e venha o diabo e me engula, se me preocupo mais com o que vós pensais de mim! A cada um a sua recompensa: freeway sem volta.  Nunca pretendi ser modelo nenhum de virtudes. Nem perfeita. Nem adequada. Há receitas para bolas de berlim, para castanhas de ovos, para os belos doces do algarve, até para a diarreia, o escorbuto, a receita para a ditadura. Mexer bem.  Que as rotinas para muitos, são a forma simplificada de diminuir esforços, uma rampa ao planeamento e estratégia, eu compreendo, mas assim não rendo, vejo-me, não me vendo, não preciso dela, sempre gostei de jazz e de improvisar nas curvas, para mim, as rotinas matam tudo, os casamentos, as famílias, os parlamentos, é a matança da criatividade, a morte lenta do amor, escancarada, uma inibição ao espontâneo. Uma subversão, em que trocas o que te inspira pelo hábito. Investigar. Até dissolver. Ou desistir. Ou saciar. Ou insistir. Ou praticar. Dissolver. Também é verdade. Apaixonada por artes e por pessoas. Devia estar a conjugar estes termos no particípio passado. Porque já não sou exatamente assim. Devo estar a ser encostada à parede do blog por Pallas. E a porra do espelho repete-me que já tive melhores dias nesse tal passado e eu cuspo-lhe o não, que está enganado. Que só agora me priorizo realmente. Que só agora, nos últimos três anos, aprendi a palavra não. Não, não vou, não, não faço, não, não quero, não, não me importa. Exporto tudo, até o sizo. Que só agora, começo a apreciar o meu valor e a homenagear quem partiu e me era semelhante nos istos e aquilos de que somos todos feitos, as particularidades. Que só agora descobri que isto não muda com empatia a ponto de te anulares, que a soberba e a intriga, a ganância e a falta de verticalidade, de que é feita esta e todas as sociedades, que são uma espécie de "vamos brincar aos doutores, mas eu é que dou a injeção e tu ou aceitas ou levas uma bofetada, ou alegas não ter doença nenhuma e sais a correr pela porta do fundo." Como dizia um dos meus ex-maridos (eu a comparar-me com um astro, Elizabeth Taylor ipsis verbis, 7xs), sobre não gostar de levar um vermelho, ou de ser posto à baliza por falta de engenho, ou seria de empenho? e por orgulho ferido; por birra, pedia ao treinador para ir pro banco e saía a meio de um jogo e ia mandar um fax. Nunca sei se entendo direito a lição que me querem dar, mas já saí a meio do jogo. E até já saí de fininho de qualquer jogo. O enfarte é isso. É cortar o elo. Foi um apagão, um flashback, um momento de tristeza, o stress. Das fraquezas, faço força. E como me querem na horizontal, finjo-me de morta. Mas morna é que não sou! Cicuta prós que escolhem encolher ombros e se manterem no banco. Eu saí e fui mandar um fax para a juventude que vos vai salvar o coiro e nos tirar a todos deste chove, mas é só pra alguns, deste agoiro que é viver na imundície, na pocilga, com leitões. Chegou a minha hora de gritar, não convivo mais com a javardice. 

D'O jogo da paciência.

E acabo a estrutura ao escopo, a minúcia é mais logo. Como no jogo da berlinda, para um público demagogo e casto, dedico esta última estrofe da composição, em jeito de abraço, aos que se dependuram na minha janela, mendigando assunto, ejaculando maldição, que se entretêm a falar de nome alheio, sem lhe conhecer o cheiro e menos a denominação, nunca fui o vosso bagaço, nem taça do alambique onde bebeis, nem vaso decorativo e chique, da loja dos acepipes onde ides, antes que a casa pegue fogo, antes que chegue o odor do enxofre, antes que ponham as barbas de molho, desimpeçam a porta, já vos dei de sobra, antes que venha o "Chico" refutar a vossa armadilha, a arapuca, a estriba do vosso desconforto, vós fingis, agora, que não entendeste o recado, lido no scroll down da página, o Chico finge-se de morto, e, bem vistas as coisas, ainda podeis chamar-me artista e beber um Porto à minha saúde, que eu não me importo!

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